nota da cut: 60 Anos do Golpe de 1964 - Ditadura Nunca Mais!
Neste ano de 2024, a CUT faz 41 anos e o Golpe Militar, que
impôs a ditadura militar no Brasil, completa 60 anos. A CUT surgiu da luta
contra o regime militar e o movimento sindical foi protagonista dessa luta no
final dos anos 1970 e início dos anos 1980.
De 1964 a 1985, o Brasil viveu sob governos militares que
impuseram um regime autoritário com repressão política, assassinatos,
perseguições e aniquilamento de organizações da classe trabalhadora,
sucederam-se cinco governos sob o comando de generais, que resultaram em
processos de corrupção, dependência econômica e crescimento da dívida
externa.
O período que antecedeu o golpe militar de 1964 foi de luta
intensa pelas chamadas reformas de base, os trabalhadores e trabalhadoras da
cidade e do campo se organizavam no Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), na
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), nas Ligas
Camponesas e exigiam reformas política, sindical, educacional, fiscal e
agrária.
Especialmente o mês de março de 1964 foi de intensa agitação
social, a exemplo do comício em apoio às Reformas de Base, no dia 13 de março,
que reuniu mais de 150 mil pessoas no Rio de Janeiro.
Com o golpe, o CGT, a CONTAG e as Ligas Camponesas foram
violentamente perseguidas, sedes de sindicatos foram invadidas, seus dirigentes
presos, cassados, torturados e até mesmo assassinados. Mas, para impedir
qualquer possibilidade de reação dos trabalhadores, foi imposta uma legislação
de cerceamento das liberdades democráticas, como a lei de greve, a lei do fim
da estabilidade no emprego, a lei de segurança nacional, a lei de imprensa,
entre outras.
Tudo isso combinado com um programa de desenvolvimento
dependente do capital internacional e de acordo com os interesses dos grandes
empresários e latifundiários resultou em arrocho salarial, desemprego, intenso
êxodo rural, concentração das propriedades, da renda e da riqueza e miséria nas
grandes cidades.
O valor do salário mínimo real caiu cerca de 40%, entre 1961 e
1970. A concentração de renda subiu em duas décadas e houve rápida
intensificação do processo de exploração do trabalhador com o aumento da
jornada, a piora nas condições de vida e de trabalho. Uma das
consequências dessa superexploração foi a posição de "campeão mundial de
acidentes de trabalho", atingida pelo Brasil em 1976.
Ao mesmo tempo, nas fábricas, especialmente nas multinacionais,
instalou-se uma aliança dos empresários com os militares, com agentes da
repressão infiltrados entre os operários, reprimindo todas as formas de
organização e manifestação coletiva. Sindicalização, participação em
assembleias, oposições aos colaboracionistas pelegos foram, na prática,
proibidas, o que dificultou ou inviabilizou a ação sindical combativa.
Além das listas fornecidas pelos recursos humanos das empresas daqueles que deveriam ser demitidos ou presos, a exemplo do caso da Volkswagen, cujo sistema de vigilância, repressão e colaboração com a ditadura militar foi reconhecido e comprovado. Empresas estatais como a Petrobras foram militarizadas e tornaram-se laboratórios de como se fazer vigilância e repressão contra os trabalhadores.
Nos 21 anos de ditadura militar no Brasil, entre 1964 e 1985, os
trabalhadores e trabalhadoras foram as principais vítimas, como mostraram as
investigações da Comissão Nacional da Verdade. Mesmo em meio ao desmantelamento
das organizações e de intensa repressão dentro das fábricas e do setor público
houve as heroicas greves de Contagem (MG) e Osasco (SP), em 1968 e, depois, as
grandes greves que iniciaram o processo de derrota da ditadura entre 1978 e
1981 e que impulsionaram o surgimento da CUT.
No processo de redemocratização do país, na Lei da Anistia e na
Constituição de 1988 os militares agiram para que seus crimes ficassem impunes,
para que seus privilégios fossem mantidos e para que a tutela militar estivesse
na Constituição especialmente no artigo 142 que prevê a "garantia da lei e da
ordem" (GLO) e na subordinação das polícias militares ao exército.
Em 2016 foram coniventes e atuaram para o golpe
midiático-jurídico-parlamentar que depôs a presidenta Dilma, com a prisão
ilegal do presidente Lula e com o governo neofascista de Bolsonaro.
Bolsonaro colocou cerca de 10 mil militares em cargos
estratégicos e importantes, em vários ministérios, órgãos de governo e
empresas estatais, com o objetivo de assegurar os atentados contra os
direitos da classe trabalhadora, contra os direitos humanos e especialmente os
relacionados ao genocídio causado por políticas negacionistas frente à
pandemia. É preciso colocar na reserva todos os comandantes nomeados após 2018.
Para o enfrentamento da questão militar no Brasil, é fundamental
a continuidade das investigações da tentativa de golpe contra o governo
federal, em 8 de janeiro de 2023, com a punição dos responsáveis e as mudanças
que se fizerem necessárias nos comandos militares.
É preciso iniciar mudanças estruturais capazes de democratizar
as corporações, a começar pela mudança do currículo nas escolas militares e a
democratização da gestão escolar; a desmilitarização das Polícias Militares
(PMs) e a desvinculação de Exército e PMs; a alteração do artigo 142 da
Constituição Federal, que prevê a "garantia da lei e da ordem" (GLO), além de
vedar a participação dos militares em atividades políticas.
É preciso desmilitarizar a segurança pública para deter a
escalada de violência contra as populações pobres, periféricas e negras.
Nas polícias militares, tudo é tratado como combate e o
resultado dessa guerra sem fim é sangue nas periferias, como se vê na Operação
Escudo que já vitimou 51 pessoas até agora na Baixada Santista, sob os
aplausos do governador bolsonarista Tarcísio de Freitas.
É preciso cumprir as determinações legais, as recomendações da
CNV (Comissão Nacional da Verdade, a punição criminal dos autores de torturas,
assassinatos, ocultamento de cadáveres e outros crimes de ontem e de hoje. A
CUT soma-se às organizações que lutam e exigem Verdade, Memória, Justiça e
Reparação.
Sem liberdades democráticas não há avanços na organização das
classes trabalhadoras, essencial para avanços nos direitos e na construção de
uma sociedade sem violência, opressões e exploração de classe.
Ditadura Nunca Mais! Punição para os Golpistas de ontem e de hoje!
Fonte: CUT