SINDICATO denuncia gestão bolsonarista da Embrapa por desmonte da estatal
A direção do Sindicato
Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (SINPAF)
divulgou nota esta semana criticando a gestão bolsonarista do presidente da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Celso Moretti, que anunciou
uma reorganização institucional na estatal, quando a iniciativa é, de fato, um
grande desmonte da empresa.
E
a proposta que Moretti anunciou por meio da imprensa confirma os
questionamentos e as críticas da direção do Sinpaf. Ele propõe cortes drásticos
nos custos com vigilância armada, limpeza, água, energia e quadro de
trabalhadores, diz trecho da nota.
Defende,
ainda, diz a nota, "a captação de recursos da iniciativa privada, por meio de
um novo modelo de negócios, para transformar a Embrapa naquilo que acredita ser
uma empresa ágil e eficiente".
"Todo
esse processo é estranho e pouco transparente, mas evidencia a tentativa
despudorada de transformar a empresa em um balcão de negócios, facilitando a
apropriação privada da estrutura e da inteligência construídas por décadas de
investimentos públicos", diz o Sinpaf.
Confira a íntegra da nota:
GESTÃO MORETTI ANUNCIA
DESMONTE DA EMBRAPA
No
momento em que o país se encontra em uma das suas piores crises, nas esferas
política, econômica, ética e sanitária, em um ano de grande instabilidade,
pois, além da pandemia, teremos eleições para presidente da república, governos
estaduais, senadores deputados federais, o presidente da Embrapa, totalmente
alinhado ao Governo Federal negacionista, anuncia, pela imprensa, o desmonte da
Embrapa.
Ao
anunciar uma ´fantástica´ e imediata reorganização institucional, a Gestão
Moretti propõe cortes drásticos para fazer jus a um orçamento combalido por
conta de sua inércia administrativa. Defende, ainda, a captação de recursos da
iniciativa privada, por meio de um novo modelo de negócios, para transformar a
Embrapa naquilo que acredita ser uma empresa ágil e eficiente. O caminho para
conseguir tal feito - convertendo a Embrapa em uma grande corporação privada -
seria a criação de um amplo centro de serviços compartilhados, aliado a uma
drástica redução de custos com vigilância armada, limpeza, água, energia e
pessoas, essas últimas por meio de um eventual plano de demissão incentivada e
pelo desligamento daquelas que forem completando 75 anos.
Para
iludir os desavisados que ainda caem nas narrativas fantasiosas da Gestão
Moretti, a entrevista dada ao Estado de S. Paulo é recheada por citações de
cifras, valores e projeções mirabolantes, com o objetivo de dar veracidade à
estória contada. Nela se retoma a velha e recorrente promessa de eliminação das
funções gratificadas existentes na Embrapa. Lembrando que, passados mais de 30
meses dessa sofrível gestão, o custo com esse tipo de despesa nunca diminuiu.
Pelo contrário, semana passada, um novo assessor da presidência foi
anunciado.
Entretanto,
a cereja do bolo para mostrar alinhamento entre as festejadas mudanças do mundo
corporativo e a planejada reorganização na Embrapa é o fato da Gestão Moretti
se gabar dessa proposta ter sido elaborada por uma empresa de consultoria,
diga-se de passagem, regiamente remunerada com recursos "doados
desinteressadamente" pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)
e a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB).
Todo
esse processo é estranho e pouco transparente, mas evidencia a tentativa
despudorada de transformar a empresa em um balcão de negócios, facilitando a
apropriação privada da estrutura e da inteligência construídas por décadas de
investimentos públicos.
Pegos
desprevenidos pelo anúncio do desmonte da empresa,
trabalhadoras(es)/pesquisadoras(es) expressam incredulidade com mais uma ação
antidemocrática e sem transparência da negacionista Gestão Moretti.
A
pergunta seguinte, feita por um pesquisador veterano, reflete a sensação
generalizada de revolta na Embrapa, por se desencadear um processo
assumidamente privatizante, unilateral e autoritário:
"Como
uma instituição científica do tamanho, complexidade e relevância da Embrapa
chega ao ponto de ser reestruturada, unilateralmente, sem que a proposta seja
discutida e muito menos construída com a participação de seus/suas cientistas e
demais trabalhadores/as? O que dizer de uma gestão que não dialoga internamente,
mas que se apressa em anunciar na imprensa uma mudança desse porte? Como não
ficar indignado com um processo tão apressado e inapropriado, em meio à grave
crise institucional vivenciada pela empresa? A mudança proposta precisa ser
imediatamente rechaçada", enfatiza o experiente cientista.
O
cerne da discussão sobre uma eventual necessidade de reorganização da Embrapa
abarca uma questão central. Qual deve ser o papel de uma empresa pública de
pesquisa agropecuária? Esse debate precisa ser iniciado de imediato,
especialmente nesse momento em que a Embrapa está sendo cooptada para atender
interesses de pessoas e grupos específicos; em que a centralização e a
concentração de poder só aumentam; em que pessoas inexperientes são alçadas a
cargos estratégicos; em que gastos desnecessários são feitos com sistemas e
softwares ineficientes; em que a burocracia cada vez maior sufoca a
criatividade e a produtividade na empresa; entre outros problemas que
estão se acumulando.
De
toda forma, se o conjunto de trabalhadores e trabalhadoras fosse consultado
acerca da necessidade de uma reorganização institucional, certamente que o
desejo seria por uma drástica e imediata mudança qualitativa, talvez começando
pelos componentes da alta gestão os quais estão, de fato, de maneira muito
competente, destruindo a Embrapa. Essa certamente seria uma mudança bem-vinda.
Precisamos de mais defensores da Embrapa e menos ´marionettis´.
Por uma Embrapa Pública,
Democrática e Inclusiva!
Fonte: CUT