ASA REALIZOU ATO PÚBLICO PELAS RUAS DE MOSSORÓ EM DEFESA DO SEMIÁRIDO

"Esse é o nosso país; Essa é a nossa bandeira; É por amor a essa pátria Brasil; Que a gente segue em fileira". Ao som da composição Ordem e Progresso de Zé Pinto, mais de 600 pessoas seguiram em marcha pelas principais ruas de Mossoró (RN), na tarde desta quinta-feira (24), com o objetivo de dar voz às várias bandeiras de luta dos povos e territórios do Semiárido brasileiro, bem como denunciar as ameaças da perda de direitos. O ato público é parte da programação do IX EnconASA que reúne agricultoras/es, técnicos/as e representantes de movimentos dos estados do nordeste e do norte e Vale do Jequitinhonha de Minas Gerais.

Além dos/as participantes do evento, o ato público congregou grupos culturais, a exemplo do Grupo de Mulheres Quilombolas de Jatobá. Neste contexto, a agricultora familiar da Bahia, Beronice Ferreira da Silva, destaca que há muitos direitos que devem ser assegurados para o povo do campo. "A gente está aqui para reafirmar os direitos que a gente conquistou até agora para que a gente não perca estes direitos. E também ir atrás do que a gente ainda não conquistou que é a titulação de nossas áreas coletivas, a regularização de todos os territórios. Essa é uma luta grande que a gente não conseguiu avançar. Ver todos os estados do nordeste presente dá mais coragem. A gente, apesar de tudo, está unido."

As palavras de ordem, poesias, bandeiras e depoimentos deram o tom do ato. Mulheres, jovens, indígenas, quilombolas deixaram claro em suas falas que não vão admitir nenhum retrocesso nas políticas públicas e nos direitos básicos conquistados à custa de muito suor e sangue. "A nossa alternativa é nenhum direito a menos, a nossa alternativa é um Ssemiárido pintado de verde, a nossa alternativa é um Semiárido cheio de mulheres autônomas", disse a feminista e membro do Centro Feminista 08 de Março (CF8), Conceição Dantas, em um discurso emocionado.

Já a integrante do Movimento Ibiapabano de Mulheres do estado do Ceará, Liliane de Carvalho, salienta o quanto as mulheres exercem um papel fundamental na sociedade e o quanto é urgente valorizá-las. "Nós mulheres é que sustentamos o mundo com o nosso trabalho, que é extremamente valoroso porque ele dá conta do cuidado com as pessoas, com o ambiente; mas que ainda é um trabalho invisibilizado, injustiçado e nós estamos aqui para dizer que se o nosso trabalho sustenta o mundo, nós queremos ser tratadas com igualdade, queremos ser tratadas com respeito, queremos estar participando ativamente de todos os espaços de poder e de decisão para dizer em que mundo nós queremos viver", disse.

A juventude também deu seu recado e mostrou a insatisfação com a iminente aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que prevê o congelamento de investimentos em áreas como saúde, educação e previdência para os próximos 20 anos.

 "A gente está procurando manter a juventude no campo porque com o passar dos anos os jovens estão saindo de lá por falta de estudos, falta de serviço. Então a gente está lutando pela bandeira da sucessão rural e contra esta PEC 55 que vem acabar com a gente. Estamos nos reunindo para não deixar o governo tirar nossos direitos à saúde, educação. Além de formação política e sindical para que o jovem saiba buscar e entenda seus direitos", afirmou o líder jovem, Lucas Martins, que mora na comunidade de Santo André na cidade mineira de Francisco Sá.

Ao final, a coordenadora da ASA pelo estado da Paraíba, Glória Araújo, "a nossa energia vem de um povo resistente que transforma desafios em vida. As ruas eram ocupadas pelo saque, fome, miséria. Depois que esse povo apresentou ao governo e à sociedade as políticas de convivência com o Semiárido, não podemos viver temerosos porque o Brasil vive a beira de um abismo. Vamos enfrentar a luta pela água, sementes, alimentação saudável. Chegamos a um milhão de cisternas. Precisamos dizer isso na cidade. Temos que dizer que a ASA está também na luta pela produção de alimentos saudáveis pro campo e cidade. Hoje, nosso espírito de luta foi fortalecido", salientou. O ato foi finalizado com música e uma homenagem ao saudoso Jean Carlos, ex-coordenador do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC).

FONTE: Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA)