Saiba o que faz um sindicato e como ele ajuda a melhorar suas condições de trabalho
O sindicato é um
instrumento de luta coletiva que tem de ser valorizado e fortalecido com a
associação dos trabalhadores que têm o direito de votar para escolher a
direção, a pauta de reivindicações e as lutas que precisam ser feitas para
conseguir melhores condições de trabalho, renda e benefícios. Leia
no final tudo que você precisa saber sobre o papel de um sindicato.
Apesar
dos ataques aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras desde o golpe de
2016 contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, as categorias que têm sindicatos
fortes, combativos e atuantes e têm um percentual alto de associados que
participam das lutas, são as que mais têm mantido o poder de compra e
benefícios como planos de saúde, vales alimentação e refeição, entre outros.
A
reforma Trabalhista, em vigor desde 2017, que acabou com mais de 100 itens da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), reduziu o do poder dos sindicatos de
negociar melhorias das condições de trabalho e renda com os patrões e sufocou o
financiamento dessas entidades para enfraquecê-las e, assim, reduzir seu poder
de pressão. O resultado é a queda no poder de compra cada vez mais corroído,
além da perda de direitos conquistados com muita luta de centenas de categorias
profissionais.
Mas,
algumas categorias, com sindicatos fortes como metalúrgicos e bancários
impediram retiradas de direitos e fizeram negociações que mantiveram conquistas
no Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) e na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT),
apesar da reforma Trabalhista ter autorizado os acordos individuais entre
patrões e empregados em prejuízo dos acordos coletivos, feitos por seus
representantes sindicais. Entre as normas que podem ser por acordo individual
estão: jornada de trabalho, banco de horas, plano de cargos e salários e
teletrabalho.
No auge da pandemia do
novo coronavírus, em 2020, por exemplo, graças aos acordos com a
montadora Volkswagen, mesmo com a redução de jornada
implementada para atravessar o período de crise, o Sindicato dos Metalúrgicos
do ABC (SMABC) garantiu 100% do salário líquido, independente de faixas
salariais.
Na
época, estava em vigor a Medida Provisória (MP) 936, que instituiu o Programa
Emergencial de Manutenção do Emprego e Renda que permitiu às empresas reduzir
jornada e salário na pandemia.
A
mais recente conquista dos metalúrgicos foi
no final do mês passado, junto à empresa Delga, em Diadema. Os trabalhadores
aprovaram o acordo de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) válido por
cinco anos, negociado pelo Sindicato com a direção da fábrica. A categoria
também conquistou o plano de cargos e salários e 40 horas semanais, entre
outros direitos.
Além
de ganhos, os sindicatos também têm
conseguido evitar retrocessos como é o caso dos bancários.o O governo federal e seus
aliados no Congresso Nacional tentaram impor a abertura dos bancos aos finais
de semana, mas graças à luta da categoria, o debate sobre a proposta foi
suspenso.
Na
última quarta-feira (6), o presidente da Comissão de Defesa do Consumidor
(CDC), da Câmara dos Deputados, deputado Sílvio Costa Filho, decidiu que o
Projeto de Lei (PL) 1043/2019, que libera a abertura dos bancos aos sábados e
domingos, somente voltará a ser debatido e encaminhado à votação após o período
eleitoral. A deliberação ocorreu ao final de audiência sobre a matéria,
realizada a pedido da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo
Financeiro (Contraf-CUT) e demais entidades sindicais.
"Nossa
avaliação é que nós, bancários e bancárias, saímos vitoriosos, tanto pela
realização da audiência, onde conseguimos expor todos os problemas relacionados
a esse projeto de lei, quanto com a decisão do deputado e presidente da
Comissão em paralisar o debate", destacou a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia
Moreira.
Em
meio a um cenário de econômico caótico e com tentantivas rotineiras de ataques,
as conquistas dos sindicatos têm extrema importância para os trabalhadores que
lutam também para manter o poder de comprar dia sim outro também.
Nos
últimos três anos e meio de governo de Jair Bolsonaro (PL), que manteve a
reforma de Temer, a média dos salários caiu 8%, enquanto a inflação está em
dois dígitos desde o ano passado, sem previsão de redução a curto prazo.
Por
isso, é grande a necessidade de fortalecer as negociações feitas a partir dos
sindicatos. Afinal, sem poder de compra do trabalhador e sem consumo os
empresários também não ganham e a economia não gira, prolongando ainda mais a
crise econômica, a falta de geração de emprego e de melhora da vida dos
trabalhadores.
Lula defende valorização
dos sindicatos
A
defesa que o ex-presidente Lula (PT) fez da valorização dos sindicatos em uma
reunião com os empresários esta semana indica que, se vencer as eleições, o
olhar dele estará voltado para a defesa dos direitos da classe trabalhadora.
Nos dois mandatos de Lula na Presidência, o salário mínimo foi valorizado,
puxou a média de reajustes das demais categorias e, com melhor poder de
comprar, o trabalhador manteve o mercado interno aquecido e livre as cries
internacionais.
A
importância da valorização do salário mínimo foi destacada pelo Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, já em 2019, quando o
governo Bolsonaro acenava que iria acabar com essa política, o que acabou
ocorrendo.
No documento, o
Dieese apontou que, no Brasil, o salário mínimo serve ainda de referência para
a remuneração de trabalhadores autônomos e também constitui o piso dos
benefícios da Seguridade Social, o que engloba os benefícios da Previdência, da
Assistência Social e do seguro desemprego. Por esse motivo, a elevação real do
valor do salário mínimo teve grande efeito sobre a população do país,
favorecendo o aumento do consumo.
A
estagnação do valor do salário mínimo e o aumento do desemprego e das ocupações
precárias no período recente certamente colaboraram para a lenta recuperação e
o baixo dinamismo da economia brasileira. Em certo sentido, o Brasil está na
situação inversa à do ciclo virtuoso anterior: elevação do desemprego, salários
contidos, crédito caro, baixo poder de consumo, baixo nível de atividade,
elevado nível de ociosidade das empresas.
É
o Brasil com emprego decente e trabalhador com poder de compra que Lula deixou
claro que quer trazer de volta se ganhar a eleição. Em reunião, na terça-feira
(5), na Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), o ex-presidente disse
aos empresários que pretende empoderar canais para negociações coletivas entre
trabalhadores e empresários e fortalecer os sindicatos. Lula foi presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e um dos fundadores da CUT Nacional.
A
revisão das perdas de direitos e renda desde 2017 é um tema que preocupa o
ex-presidente e está na pauta de discussões de Lula, pré-candidato à
presidência da República nas eleições deste ano e primeiro colocado em todas as pesquisas de intenções de
voto.
Para
os sindicalistas CUTistas, que consideram primordial a revogação da reforma
Trabalhista, o aceno de que é preciso fortalecer os sindicatos dos
trabalhadores que Lula fez aos empresários é bem-vindo.
A pauta de reivindicações da
classe trabalhadora feita pela CUT e demais centrais sindicais, entregue
ao ex-presidente, foi incorporada ao seu programa de governo.
"Está
no programa da chapa Lula-Alckmin, pré-candidatos à presidência e vice, a
diretriz de proteção trabalhista e representação sindical entregue pelas
centrais", afirma o assessor do Fórum das Centrais Sindicais, Clemente Ganz
Lúcio.
Confira a atuação dos
sindicatos em defesa dos direitos dos trabalhadores
O que faz um sindicato?
Seus
dirigentes fazem as negociações de convenções e acordos coletivos, fiscalizam e
negociam as condições de trabalho.
O que o sindicato
negocia?
É
o sindicato que negocia o piso mínimo da categoria, o reajuste salarial, as
condições de trabalho, o valor dos vales refeição e alimentação, melhorias no
plano de saúde e valor a ser descontado da parte dos trabalhadores, além de
novos benefícios, como creches para as filhas das trabalhadoras.
Os
sindicatos também organizam lutas gerais na defesa das leis que garantem os
direitos dos trabalhadores e trabalhadoras ou para impedir que leis que tiram
direitos sejam aprovadas, como foi o caso da Medida Provisória (MP) nº 1045, que
acabava com 15 direitos fundamentais dos trabalhadores e foi rejeitada pelo
Senado, depois de muita luta e pressão da CUT e seus sindicatos além das demais
centrais.
Por quê é necessária a
filiação a um sindicato?
Além
das negociações por direitos, da pressão contra governos ou empresários que
querem tirar direitos, explorar a mão de obra e da luta contra os assédios
moral e sexual, um ponto muito importante para o trabalhador é sua defesa
jurídica.
É
o sindicato que presta esse tipo de assessoria. Ele faz a homologação, confere
se as rescisões de contrato estão corretas; orienta os direitos do trabalhador,
como fazer ações; suas obrigações e deveres. Tudo isso tem um custo que precisa
ser pago ao outro trabalhador que atua nos sindicatos, defendo seus direitos.
O sindicato defende
apenas seus filiados?
Em
alguns países, os sindicatos defendem apenas os seus filiados, mas no Brasil as
conquistas valem para todos os trabalhadores de uma categoria, seja filiado ou
não, daí a necessidade da contribuição dos trabalhadores associados na
manutenção da luta e do diálogo para convencer seus colegas a se associarem
também, afinal, todos ganham com sindicatos fortes.
A contribuição é
obrigatória?
A
CUT sempre se posicionou contra a obrigatoriedade do desconto de um dia de
trabalho para os sindicais, mas defende a liberdade do trabalhador que aprovou
o desconto mensal de sua filiação na folha de pagamento.
Em
junho de 2018, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votou
contra a obrigatoriedade do imposto sindical, cujo valor era a partir de um dia
de trabalho.
"Defendemos
uma contribuição livre, democrática e aprovada em assembleia, mas discutida e
aprovada. O trabalhador é que deve decidir a forma de financiamento do seu
sindicato", afirma o secretário de Assuntos Jurídicos da CUT Nacional, Valeir
Ertle.
"Assim
como os sindicatos patronais são financiados pelos patrões, é o trabalhador que
financia o seu sindicato para que ele possa ter condições de defendê-lo",
acrescenta o secretário.
Qual a contribuição
financeira do trabalhador ao sindicato?
Cada
sindicato define o valor da contribuição numa assembleia de trabalhadores da
categoria. Pode ser um percentual a partir do piso que recebem, mas é
importante ressaltar que é a categoria do trabalhador que decide o valor de
mensalidade - geralmente são valores baixos, para facilitar e ajudar o
sindicato a ser mais representativo, com mais associados.
Os valores da
contribuição podem sofrer aumentos ou redução?
O
valor é definido geralmente no estatuto do sindicato, com o percentual tendo
sido estabelecido em assembleia. São as assembleias que podem definir os
aumentos ou até reduções de valores.
Pode
ser decidido em convenções, dependendo do plenário e da estrutura do sindicato.
Às vezes, o sindicato é nacional, mas as assembleias são soberanas e a direção
do sindicato tem de cumprir a decisão dos trabalhadores.
Como é feita a
contribuição ao sindicato?
A
mensalidade sindical está prevista em artigo da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT). O desconto é feito em folha de pagamento, assim que o
trabalhador autorizar, assinando a sua filiação. A entidade manda a relação
para empresa que é obrigada a descontar a contribuição na folha de pagamento.
O
trabalhador pode optar em pagar por boleto, mas isso vai depender da estrutura
do sindicato, que decide a forma de pagamento.
O que fazer se houver
práticas antissindicais no trabalho?
O
sindicato pode acionar o Ministério Público do Trabalho (MPT) caso a empresa
tente retaliar o trabalhador sindicalizado, e não permitir o desconto da
contribuição em folha.
Outro
exemplo de prática antissindical punida pela justiça é quando uma empresa tenta
impedir o trabalho do sindicalista na defesa dos direitos de sua categoria.
Este foi o caso de uma dirigente do Rio Grande do Sul, que foi bloqueada pela
POP 99 durante as negociações coletivas com as plataformas digitais. A empresa foi condenada a pagar uma
indenização pelo Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4)
Como posso saber a qual
sindicato a minha categoria pertence?
O
site do Ministério do Trabalho e Previdência dispõe de uma página de aferição
sindical. A lista contempla os sindicatos criados até 2016, último ano
disponível para checagem
Como o trabalhador pode
ajudar a fortalecer seu sindicato?
Todo
trabalhador que se sindicalize, pode cobrar o seu sindicato, e é importante que
assim o faça. Se ele for sócio, ele pode exigir uma atuação forte que todo
sindicato tem de fazer, e é a sua cobrança e participação que fortalece a
entidade da qual faz parte.
Entenda o que são
federações, confederações e centrais sindicais
Os
sindicatos podem ser organizados em nível estadual e municipal. Cada ramo de
sindicato pode formar uma federação sindical, que é a representação em segundo
grau do trabalhador. Confederações sindicais são organizações sindicais que
reúnem no mínimo três federações sindicais de uma mesma categoria econômica ou
profissional.
Em
nível nacional, as centrais sindicais, como a CUT, abrangem diversas e
diferentes categorias profissionais. Cada um dos grupos possui estatutos e
modos de organização interna próprios.
Escrito por:
Rosely Rocha e Marize Muniz | Editado por:
Marize Muniz
Fonte: CUT