Sem sociedade civil não se constrói políticas eficientes de combate à fome, diz conselheiro
"É preciso fortalecer a sociedade civil, para que ela possa cobrar do
governo seus espaços na construção de políticas públicas. Apenas desta maneira
é possível construir politicas eficazes, como as que tiraram o Brasil do Mapa
da Fome das Nações Unidas, em 2014". As afirmações foram feitas por Marcos
Rochinski, integrante do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
(Consea), que participou, nesta segunda-feira (27), em Brasília, de um encontro
com oficiais de Senegal e de Serra Leoa.
O encontro vai até 31 de agosto e
está sendo promovido pelo Centro de Excelência contra a Fome, entidade ligada
ao Programa Mundial contra a Fome (WFP), das Nações Unidas. Os representantes
de Serra Leoa e Senegal pretendem fazer um intercâmbio de conhecimentos e boas
práticas em alimentação escolar. Na agenda, há reuniões com funcionários do
governo brasileiro em Brasília e uma viagem de campo a Salvador (BA), para ver
de perto a integração entre alimentação escolar e agricultura familiar.
Rochinski, que atua no Conselho
Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condraf), chamou a atenção para
o fato de que as políticas apresentadas pelos órgãos governamentais no evento -
como as de combate à fome ou de alimentação escolar - nasceram do diálogo entre
governo e a sociedade civil organizada brasileira. "Independentemente da forma
de organização desses grupos, quer sejam sindicatos, confederações, movimentos
ou Ongs. Indiferentemente de qual seja o governo, se ele não tiver capacidade
de olhar e dialogar com a sociedade civil, certamente jamais chegará a um
patamar de construir políticas bem-sucedidas de combate à fome", alertou.
Lembrou que tais políticas, hoje
recomendadas pela ONU, receberam contribuições decisivas do Consea. "Eu diria
que as políticas de convivência com o semiárido brasileiro, por exemplo, a
política de cisternas, que provê água para consumo humano, ou a da Segunda
Água, que é para a produção; o Programa Nacional de Aquisição de Alimentos
(PAA), que fortalece os agricultores familiares tanto em suas formas
organizativas quanto na comercialização, além das instituições que recebem
esses alimentos; como faz também o Programa Nacional de Alimentação Escolar
(Pnae), carregam a marca do Consea, cuja atuação considero fundamental para o
país ter saído do mapa da fome", disse.
Inspiração
"O Brasil tem sido uma inspiração
para todo mundo. Tem nos ajudado e nos dado boas ideais sobre como planejar e
executar um programa alimentar sustentável para as escolas. Estamos trazendo
nossas próprias experiências, para compartilhar aqui também. Eu agradeço muito
ao Brasil e aos diretores do WFP por esse encontro, bem como aos companheiros
do Senegal que estão presentes", disse Emily Kadiatu Gogra ao site do Consea.
Ela é secretária-executiva do Ministério de Educação Básica e Secundária Sênior
do governo de Serra Leoa.
"Não se trata apenas de transferir
conhecimentos daqui para outro país, mas de ter informações, conversar com as
pessoas in loco e selecionar o que se deseja aplicar em cada país", acrescentou
a embaixadora do Senegal, Fatoumata Binetou Correa, "Nós iniciamos um programa
nos moldes do Bolsa-Família há quatro anos. Certamente, foi uma inspiração
positiva do Brasil. Muitas famílias em situações de vulnerabilidade podem se
beneficiar da expertise brasileira nessa área. Há momentos em que é até difícil
para nós compreender como o Brasil consegue fornecer alimento a 45 milhões de
crianças todo os dias nas escolas. O Senegal tem 40 milhões de habitantes,
portanto o desafio é menor. Mas sabemos, antecipadamente, que é possível
atingir nossa meta, pois o Brasil já alcançou mais que isso".
Fonte: CONTRAF-Brasil