CUT e demais centrais querem lockdown total no Brasil e ampliação do auxílio
O tema central da live realizada nesta quarta-feira (24) pelos
presidentes da CUT, Sérgio Nobre, e da Força Sindical, UGT, CTB, NCST e CSB,
além da governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), foi a
necessidade - recomendada por autoridades de saúde e cientistas - de o país
parar por 21 dias em um lockdown nacional que, em conjunto com a vacinação em
massa, pode conter o avanço acelerado das contaminações e mortes pelo
coronavírus.
A paralisação das atividades, defendida por governadores e prefeitos em
todo o país, enfrenta a fúria negacionista do presidente Jair Bolsonaro
(ex-PSL) que, a pretexto de defender a economia, é contra qualquer tipo de
isolamento social. Para ele, só idosos e pessoas doentes devem ficar em casa,
apesar do total de doenrtes e mortos entre os jovens ter aumentado muito este
ano.
Representando o Fórum Nacional de Governadores, Fátima Bezerra afirmou
durante a transmissão que nenhum governante "fica feliz em adotar medidas de
restrição, mas elas são necessárias nesse momento, para salvar vidas".
"Não é fácil adotar medidas mais duras, mas temos que ter
responsabilidade e em momentos de crise temos que fazer escolhas para garantir
a sobrevivência à população", disse a governadora.
Sérgio Nobre, presidente da CUT, reforçou que, conforme atestam os
cientistas, "a medida mais adequada para frear a pandemia é um lockdown
nacional de 21 dias". Mas, ele ressaltou, para isso é preciso ter condições se
referindo à necessidade do auxílio emergencial para que as pessoas possam
sobreviver em casa e não terem de enfrentar riscos de contaminação nas ruas por
precisarem sair para trabalhar.
"O trabalhador sabe dos riscos de sair, mas vai porque precisa
sobreviver e o [novo] auxílio emergencial não compra nada. É um desrespeito",
disse o dirigente se referindo aos valores definidos pelo governo para a nova
fase, que vão de R$ 150 a R$ 375.
Sérgio ainda rebateu argumentos do governo de que não tem dinheiro para pagar um auxílio emergencial digno aos trabalhadores. "É mentira que o país não tem recursos. O Brasil tem condições de pagar os R$ 600 e já apontamos várias alternativas", disse o dirigente.
O auxílio emergencial, amplamente defendido pelos presidentes das
centrais para que seja pago, no mínimo, no mesmo valor do ano passado também
foi citado por Fátima Bezerra como fundamental para a estratégia de conter o
avanço da pandemia.
"É inadmissível o auxílio ter sido cortado. Só um governo que não tem a
sensibilidade de entender o drama que as famílias de baixa renda passam, toma
uma atitude de tanto desprezo como foi suspender o auxílio em dezembro", disse
a governadora.
Ela contou ainda que no ano passado, governadores do Nordeste tiveram
uma reunião com Bolsonaro e quando apresentaram a ideia de um programa de renda
básica, o governo se mostrou indiferente.
Para ela, mais do que nunca, um dia nacional de luta, como esta
quarta-feira, Dia de Luta em Defesa da Vida, da Vacina, do Emprego e do
Auxílio Emergencial de R$ 600 - Lockdown Nacional - deve
ganhar fôlego pelo Brasil e "tocar os corações" do Congresso Nacional, para que
parlamentares se sensibilizem sobre o tema.
Não podemos aceitar essa desidratação do auxílio emergencial. O povo
merece respeito.- Fátima Bezerra
A governadora reforçou ainda que "sem suporte social para famílias de
baixa renda, não haverá condições de segurar medidas restritivas por mais
tempo".
Dia de conscientizar a população
O objetivo da live assim como do conjunto de atividades realizadas em
todo o país é conscientizar a população acerca do caos social, econômico e,
principalmente, de saúde, vivido pelo Brasil atualmente, consequência da
política genocida de Bolsonaro.
O presidente continua negando a ciência, minimizando a pandemia,
desdenhando de medidas protetivas contra a contaminação e tentando incitar a
população a acreditar que a crise sanitária é um "exagero", enquanto o país
caminha para as mais de 300 mil vidas perdidas para Covid-19.
É dia também de lutar pelas vacinas para todos e todas, por emprego e
por um auxílio emergencial de R$ 600.
Vacinação em massa
Vacinas contra Covid-19 para todos e todas foi outro
ponto destacado pelos dirigentes das centrais e também pelo representante da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu Moreira. Ele
afirmou que a vacina pode resolver de forma efetiva o avanço da pandemia e que
"o governo tem total responsabilidade quanto à imunização da população".
Para combater o negacionismo do governo que resulta na falta de ações de
enfrentamento, inclusive a negligência na aquisição de vacinas, e que tem
custado a vida de muitos brasileiros, a SBPC apresentou ao Congresso um
documento propondo um conjunto de medidas para enfrentar a pandemia, entre
elas, o lockdown total no país, como exigem os presidentes das centrais
sindicais.
"É importante ter um plano nacional porque o Brasil tem infraestrutura
para isso. No entanto, foi a política de descoordenação, de negacionismo e
desmonte que favoreceu a morte e não a vida", afirmou Ildeu Moreira.
No mesmo tom, Antônio Neto, presidente da Central de Sindicatos
Brasileiros (CSB) criticou o atraso do Brasil na imunização e se referiu a
tratamentos precoces como charlatanismo. "A vacina é uma das únicas formas de
fazer com que tudo possa voltar ao normal e muitos países são exemplo disso",
ele disse.
Para Adilson Araújo, presidente da Central de Trabalhadores do Brasil
(CTB), é grave o estado do país. "Sobra a prevalência do negacionismo, das
doses de ´cloroquina´, de Ivermectina e o Brasil caminha para seu estado
terminal", criticou o dirigente.
Emprego
Ainda para o presidente da CTB, o debate sobre reverter o quadro de
desemprego no país está associado à discussão do afastamento de Bolsonaro.
"Temos 14 milhões de desempregados hoje. A Pnad [pesquisa feita pelo
IBGE], diz que 79 milhões de pessoas estão fora da força de trabalho. Não temos
nenhuma perspectiva de geração de empregos. Portanto, não tem como querer
geração de emprego e renda à luz da mediocridade mediana de Bolsonaro", disse
Araújo.
Ação das centrais
Desde o início da pandemia, as centrais sindicais lutam por soluções que
protejam os trabalhadores. Exemplo mais claro é o auxílio emergencial que, por
pressão das entidades, foi aprovado pelo Congresso em março do ano passado com
valor de R$ 600 - o triplo do que pretendia Bolsonaro na época.
Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), lembra
que o esforço das centrais sensibilizou o Parlamento para virar o jogo, o que
"salvou pessoas que já estavam à margem da miséria". O dirigente lembrou ainda
que o programa, como foi aprovado, influenciou também na redução da queda do
PIB.
"[A queda do PIB] Teria sido de 9%, o dobro do que foi realmente, 4,9%.
A pobreza hoje seria ainda maior do que é", disse Patah.
Miguel Torres, presidente da Força Sindical, lembra que Bolsonaro foi
obrigado a assinar a Lei que instituiu o auxílio, mas de lá para cá, "o governo
não fez mais nada que pudesse enfrentar a pandemia. Negou a ciência, quaisquer
medidas de enfrentamento e divulgou remédios sem eficácia".
Por isso, ele disse, as centrais se mantiveram unidas na pauta que
trata, em primeiro plano, da vida e dos trabalhadores mais vulneráveis. Em
janeiro deste ano, as centrais elencaram as cinco prioridades na luta contra a
Covid-19: vacina já!, auxílio emergencial, proteção ao emprego e renda,
financiamento a micro e pequenas empresas e uma campanha nacional de
solidariedade.
Sérgio Nobre afirmou que a proteção ao emprego é importante, mas a
proteção às empresas também é necessária.
"Pequenos negócios estão morrendo. Essas pequenas empresas são
responsáveis por metade dos empregos gerados no país e precisam de linha de
crédito a fundo perdido. Elas não têm como devolver, todo mundo sabe disso,
precisam ser salvas", disse o presidente da CUT.
Orçamento
Tema de relevância, o corte de R$ 36 bilhões na saúde, no
orçamento da União para 2021, foi citado pelo presidente da Nova Central
Sindical de Trabalhadores (NCST), José Reginaldo Inácio.
Para ele, a atenção que o governo federal dá ao Sistema Único de Saúde
(SUS) afronta o mundo inteiro, e para o SUS cumprir sua missão, tem que ter
orçamento.
"A saúde precisa sobreviver, mas o governo está transformando o Brasil
num hospedeiro do mal. O povo brasileiro, antes feliz, agora é um povo sofrido
que o mundo não quer nem chegar perto", disse o dirigente.
Governadores
Parte da frente de resistência e combate à pandemia, as propostas do
Fórum Nacional de Governadores, que reúne 21 governadores estaduais, convergem
com as propostas das centrais. Uma delas é o lockdown por 21 dias, com amparo
social aos trabalhadores, para que fiquem em casa.
Na manhã desta quarta-feira, o governador do Piauí, Wellington Dias, que
preside o fórum, participou de um encontro em Brasília, envolvendo presidentes
da Câmara dos Deputados, Artur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco
(DEM-MG), além de Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), e o
presidente Jair Bolsonaro, para tratar de uma estratégia no enfrentamento à
Covid-19.
Durante a live, Fátima Bezerra, que representou o Fórum, anunciou e
comentou o resultado da reunião com Bolsonaro.
"O presidente anunciou que, a partir de agora, vai ter um comitê de crise e que vai redirecionar o enfrentamento. Espero que seja verdade e isso tem que começar por ele enterrar o desprezo pela ciência, abandonar definitivamente a postura negacionista que foi decisiva para fazer a gente chegar a essa tragédia, com 300 mil mortos e o Brasil sendo visto como pais que pior tratou a pandemia", disse Fátima Bezerra.
*Edição: Marize Muniz
Fonte: CUT